Gilberto Freyre, uma biografia intelectual

o rosto uma dessas vastas barbas louras de avô flamengo, que nunca foram raras em rostos pernambucanos. Já glorioso, o mestre não tratava o discípulo pelo nome, mas impessoalmente, por 'seu menino'. 'Seu menino', isso, 'seu menino', aquilo. Um dia ele disse ao discípulo: 'seu menino', você tem a mania de não copiar os modelos, de querer inventar... Seu irmão copia direito, você altera'. O mestre falava zangado. Defendia, zangado, o classicismo acadêmico. O aprendiz era aos sete anos um deformador".(3) Nota do Autor Gilberto ia fazer muitas caricaturas de amigos quando estudante nos Estados Unidos e, ao fim da vida, aquarelas regionalistas assinadas Gil.

Já meio desesperançado, é o pai quem relembra, convocou amigo inglês, um certo E. O. Williams, para preceptor do filho, caso aparentemente perdido de "retardado mental", imaginava a família. Mr. Williams, "anglicano e inglês muito inglês", "conquistou a confiança e a simpatia do difícil Gilberto, interessando-se pelos seus desenhos". "Compreendendo o que havia nesses desenhos, Mr. Williams conseguiu que Gilberto começasse a aprender a ler e a escrever e a contar - creio que mais na língua inglesa do que na portuguesa". "Excelente amigo, esse Mr. Williams", só podia concluir o pai enfim despreocupado.(4) Nota do Autor Para Gilberto, "o querido inglês Mr. Williams: o melhor de quantos mestres já tive".(5) Nota do Autor

Mesmo em Oxford, aos 22 anos de idade, após conhecer e receber fortes influências de professores como A. J. Armstrong da Universidade de Baylor e Franz Boas de Columbia, decisivos para sua formação, na Inglaterra é do velho preceptor de quem mais se lembra: "Aqui, encontrei o prolongamento daquele estímulo e daquela compreensão que, menino, só encontrei num inglês, Mr. Williams. Ou nele mais do que em ninguém".(6) Nota do Autor Este o início da anglofilia de Gilberto Freyre, pelo coração, muito antes da inteligência.

A professora particular de francês, Madame Meunier, ensinando-o desde os 15 anos de idade(7) Nota do Autor - hábito de muitas famílias tradicionais e com recursos financeiros, em casa a formação intelectual dos filhos - Madame Meunier não atingiu no jovem Gilberto a influência de Mr. Williams.

Há pouco se instalara no Recife um Colégio Americano, fundado por missionários batistas do Sul dos Estados Unidos. Nele Gilberto Freyre viria a fazer o curso primário e o secundário, desde

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