governo, isto é, da Monarquia. Tal posição o deprimia e desfigurava, não lhe permitindo maior conquista de adeptos, despertar crescente entusiasmo, empolgar as massas, ou tornar-se, enfim, importante fator na vida política nacional. Por outro lado, sua atuação se fazia mais pela imprensa, em periódicos próprios ou pela infiltração nos maiores jornais das grandes Províncias, onde tinha amigos devotados ou correligionários dedicados. Nessas condições, sua projeção era restrita, por um lado, pela própria limitação da imprensa, num país com maioria esmagadora de analfabetos, a começar pelos escravos e demais camadas pobres e atrasadas da população. Os segmentos sociais assim atingidos, restringiam-se aos latifundiários e à classe média [pequenos proprietários e comerciantes, funcionalismo, profissões liberais, militares, sacerdotes], não a grande massa social [escravos, artesãos, imigrantes]. A tribuna das conferências estava praticamente fechada, com a viagem de Lopes Trovão à Europa e de José do Patrocínio aderindo à princesa Isabel, pela decretação da Abolição.
Foi precisamente nesse momento que despontou a figura impetuosa e decidida de Silva Jardim. A época era igualmente propícia. A Abolição realizara-se desordenadamente, os escravos abandonando o campo pelas cidades, em busca de melhores condições de vida e de trabalho, prejudicando particularmente a lavoura de café. A doença do velho Imperador, cada vez mais inoperante na Administração dos negócios do Estado, a ameaça crescente do Terceiro Reinado, indesejado por todos, devido à impopularidade do príncipe consorte e da imperatriz fútil, despreparada para a governança da coisa pública, as novas classes urbanas, inclusive a burguesia nascente, se avolumando, criando consciência cívica, reclamando seus direitos na administração social por se sentirem desalojadas, desamparadas. Tal estado de coisas criava uma situação em ebulição, ampliando o descontentamento, num anseio geral de renovação. Ao lado de tal estado de coisas, as questões militar e religiosa minavam persistentemente os esteios tradicionais do Trono, isolando-o ainda mais da nação. Nessa ocasião aparece o homem adequado para o lugar adequado.
Com efeito, Silva Jardim possuía as condições especiais para tal missão. Orador fogoso, capaz de empolgar multidões, com sua palavra arrebatadora, sem ligação nem compromisso com a classe no poder, inflexível nas decisões, corajoso às raias da temeridade, inabalável em sua vontade de ação, era o homem indicado para aquele papel histórico, naquele momento histórico. Ele próprio o reconhecia: