"[...] tinha-se em verdade passado o tempo das revoluções feitas somente à força da espada ou à força do dinheiro: o essencial era preparar a opinião pública; e com alguns níqueis no bolso para as estradas de ferro, e com a garganta para os discursos, também se podia abrir caminho à República", escreveu em suas Memórias e Viagens. Seu contemporâneo e biógrafo, José Leão, precisava: "em um país composto de analfabetos, onde pouco se lia, tornava-se preciso a propaganda oral levada a todos os cantos, a fim de influir nas massas".
Nisso consistiu a grandeza de Silva Jardim: compreender seu meio e seu tempo e ter as qualidades pessoais exigidas para interferir vitoriosamente neles. Barbosa Lima Sobrinho disse que Silva Jardim foi "a voz mais intrépida e o pensamento mais arrojado, com uma tendência radical, que o situa entre os que quiseram fazer da República, menos um golpe para conquista do poder, do que uma revolução, empenhada na solução dos problemas, que viessem alterar nossas estruturas políticas, sociais e econômicas", e mais adiante "é que ele visava, acima de tudo, a formação de uma opinião republicana, como conquista preliminar do advento de um regime, que lhe parecia falso, se não correspondesse às raízes profundamente mergulhadas no espírito do povo brasileiro". Por isso aceita-se "ter sido seu prestígio muito maior do que geralmente se supõe" para a criação de uma consciência republicana (1) Nota do Autor. Se Rui Barbosa, com seus candentes artigos em A Queda do Império, realizou trabalho de sapa, perigoso e eficaz contra a Monarquia decadente, Silva Jardim se dedicava a construir uma nova mentalidade, a fim de garantir o êxito do movimento republicano: um demolindo o ministério, o outro construindo a República. Medeiros e Albuquerque, também seu contemporâneo, assinala que Silva Jardim exercia sua ascendência sobretudo junto à juventude das faculdades do Rio, São Paulo, Bahia, Pernambuco, mais numerosas que as escolas militares, muito mais livres nas suas manifestações, a qual, de 87 a 89, foi o fator principal, primeiro da Abolição, depois da República. Rangel Pestana reconhece ter sido Silva Jardim "o único que até hoje nos apresentou um movimento revolucionário, porque só ele tem sabido caracterizar os sentimentos nacionais,