Perfil político de Silva Jardim

Militares", atribuindo a culpa ao governo. Dirigindo-se especialmente ao ministro interino da Guerra, presente, afirma que o Exército Brasileiro não se compõe de janízaros, porque sob a farda de cada soldado pulsa o coração de um cidadão e de um patriota. Movimento de sensação percorre a sala, o ministro, irritado, abandona o recinto, ante a estupefação dos visitantes. No dia 26, na Escola Superior de Guerra, em aula de Benjamin Constant, a cena se repete. Os alunos prestam-lhe honrarias, com discursos inflamados. Ouro Preto acha aquilo um excesso, pedindo ao Imperador a substituição do diretor da Escola Superior de Guerra. O Imperador discorda; não resultando qualquer medida a respeito.

Nessa altura, tem início a articulação dos civis e militares; Aristides Lobo e Lopes Trovão procuram Quintino Bocaiúva para, como chefe, buscar entendimento com os militares, em vista dos discursos de Benjamin Constant, o que faz por carta, solicitando entrevista em seu escritório, que se realiza no dia 30, com a presença de Aristides Lobo. Em 4 de novembro vão à casa de Deodoro, Mena Barreto, Sebastião Bandeira, Joaquim Inácio, Tasso Fragoso e outros oficiais subalternos, embora o marechal continuasse guardando leito, mantendo-se sempre reticente. Os moços lhe fazem ver a realidade da situação. O governo armava melhor a Guarda Nacional e a Guarda Cívica, o irmão de Ouro Preto, presidente da província do Rio de Janeiro, aumentava os efetivos de sua polícia, falando-se que o Exército seria privado de seu armamento mais moderno. Deodoro, exaltado, responde que nada mais se podia esperar da Monarquia em benefício do Exército, pedindo, então, Mena Barreto, autorização para agir, aludindo a uma ordem do dia de embarque do 22° Batalhão de Caçadores. "Será o último que partirá" - comenta Deodoro, indignado. Os oficiais presentes ouvem com satisfação aquelas palavras, perguntando se poderiam agir afoitamente, obtendo resposta afirmativa. Novo encontro se efetuava no escritório de Aristides Lobo, a que comparecem Solón Ribeiro e Mena Barreto, pedindo estes que os jornalistas republicanos publicassem artigos incendiários contra a Monarquia, a fim de se ir preparando a opinião pública e auxiliar a própria articulação dos militares. O gabinete de Ouro Preto recebe assim fogo cerrado das baterias jornalísticas do Diário de Notícias, de O País, do Correio do Povo. Aristides Lobo encarrega-se de contatar-se com os republicanos de São Paulo: Francisco Glicério e Campos Sales, chamando o primeiro ao Rio de Janeiro. Em 9 de novembro, Rui Barbosa escreve o artigo "Plano contra a Pátria", causando

Perfil político de Silva Jardim - Página 82 - Thumb Visualização
Formato
Texto