Perfil político de Silva Jardim

Estava inaugurado um novo regime no Brasil.

Foi isto, naturalmente, que levou Aristides Lobo, em sua coluna diária do Diário Popular, de São Paulo, a escrever a frase, tantas vezes repetida, de que o povo assisti "bestificado" à instauração da República, sendo obra exclusiva dos militares. Mesmo um jornal do Rio, A Gazeta da Tarde, publicada às seis horas da tarde, exprimia idêntica impressão: "A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em uma nova fase, pois pode-se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático, com todas as consequências da liberdade. Foi o Exército que operou essa magna transformação; assim como em 7 de abril de 1831, ele firmou a monarquia constitucional, acabando com o despotismo do primeiro Imperador, no meio da maior tranquilidade e com solenidade verdadeiramente importante que queria outra forma de governo. Assim desaparece a única Monarquia que existia na América..."

O Imperador, após receber dois telegramas do primeiro-ministro, o último terminando com o imperativo "Venha", embarcou de trem às onze horas da manhã, chegando à estação terminal de São Francisco Xavier à uma hora da tarde, rumando, por caminho diverso do habitual, para o Paço Imperial, encontrando-o com a guarda dobrada, o que lhe pareceu estranho. Pede para falar com Deodoro. O comandante do navio chileno "Almirante Cochrane", presente, insinua-lhe que a bordo de sua embarcação talvez estivesse mais seguro, o que recusa, respondendo tratar-se de "fogo de palha". A herdeira do Trono e seu marido, deixando o Palácio Isabel (hoje Guanabara), vêm à cidade de lancha, costeando Botafogo, Flamengo, Calabouço, parando no cais do Pharoux, de onde avistou a carruagem imperial, indício de que Pedro II já havia chegado, reunindo-se então toda a família imperial. O paço regurgitava de cortesãos. O Imperador pairava nas nuvens, folheando uma revista científica. Às quatro horas da tarde, Ouro Preto vem falar-lhe, contando a destituição do gabinete, fazendo-lhe uma exposição do ocorrido pela manhã. O Imperador não aceita, entretanto, a demissão, não obstante sua insistência, designando Silveira Martins, que estava viajando para o Rio, resolvendo, nessa emergência, convidar José Antônio Saraiva para organizar novo gabinete. Recebe também intimação de Deodoro para deixar o país no prazo máximo de 24 horas, respondendo ceder ao império das circunstâncias, devendo partir para a Europa com toda a família. À

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