O naturalista no Rio Amazonas - T2

Não consegui saber se havia qualquer significação simbólica nestas danças mascaradas ou se elas comemoravam qualquer acontecimento pretérito na história da tribo. Algumas delas pareciam vagamente propiciatórias de jurupari, mas o mascarado que representa o demônio fica às vezes tão embriagado como os outros e não parece ser tratado com qualquer reverência. De tudo o que consegui averiguar, estes índios não conservam nenhuma lembrança dos acontecimentos que vão além do tempo dos pais ou dos avós. Qualquer acontecimento alegre é motivo para um festival, sendo o principal as bodas. Um rapaz que quer casar com uma rapariga tucuna tem que pedir a sua mão aos pais, que arranjam o resto da cerimônia e fixam o dia para o casamento. Um que se realizou na semana de Natal, quando eu estava em S. Paulo, foi festejado com grande animação três ou quatro dias; arrefecia nas horas mais quentes do dia, mas se renovava com aumentado vigor todas as noites. Durante todo esse tempo a noiva, coberta de ornatos de penas, ficou sob a guarda das velhas indígenas, cujas funções pareciam ser conservar continuamente o noivo a uma distância segura até o fim do terrível período de danças e bebidas. Os tucunas têm o singular costume, em comum com os colinas e maués, de tratar as mocinhas, quando estas mostram os primeiros sinais de puberdade, como se elas tivessem cometido um crime. São postas em um jirau sob o teto fumacento e sujo e aí conservadas em regímen severo, às vezes durante um mês inteiro; soube de uma rapariguinha que morreu deste tratamento.

O território original da tribo tucuna abraçava as margens da maioria dos tributários, desde quarenta milhas abaixo de S. Paulo até além de Loreto, no Peru, numa distância de cerca de duzentas milhas.

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