O naturalista no Rio Amazonas - T2

o equador, onde as bem equilibradas forças da natureza mantinham um solo e um clima que pareciam o padrão da beleza e da ordem do mundo, para navegar para o Polo Norte, onde estava o meu lar sob os céus crepusculares a cerca de cinquenta e dois graus de latitude. Era natural que me sentisse atemorizado ante a perspectiva de uma mudança tão grande, mas agora, passados três anos de renovada experiência da Inglaterra, sinto como a vida civilizada, onde o nosso sentir, os nossos gostos e a inteligência encontram abundante nutrição, é incomparavelmente superior à esterilidade espiritual de uma existência semisselvagem, mesmo quando passada nos jardins do Eden. O que profundamente me impressionou foi a diversidade imensamente maior e o interesse do caráter humano e das condições sociais numa única nação civilizada, do que na Sul América equatorial onde vivem juntas três raças humanas. Mas a superioridade do frio norte sobre as regiões tropicais reside apenas em seu aspecto social, pois embora mantenha a opinião de que a humanidade só atinja a um avançado estado de cultura na luta contra as inclemências da natureza nas elevadas latitudes, somente sob o equador é que a raça perfeita do futuro conseguirá o gozo completo da formosa herança do homem, a terra.

No dia seguinte, como não houvesse vento, fomos levados pela corrente d'água doce para a foz do Pará e assim avançamos setenta milhas em vinte e quatro horas. A seis de junho, quando estávamos a 7°55' de latitude norte e a 52°30' de longitude oeste, e portanto a quatrocentas milhas da foz do Amazonas, passamos por numerosos mururés de ervas flutuantes, misturadas a troncos de árvores e folhas murchas. Entre essas massas vislumbrei muitos frutos dessa árvore peculiarmente amazônica, a palmeira ubuçu; e foi a última coisa que vi do grande rio.

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