perda total. Na tarde de três de junho lancei o derradeiro olhar à floresta gloriosa pela qual tive tanto amor e a cuja exploração devotara tantos anos. As horas mais tristes de que me lembro foram as que passei na noite seguinte quando o piloto mameluco nos deixou livres dos baixios e fora da vista de terra, embora ainda na foz do rio e ancorados à espera do vento, e eu senti que se partira o último elo que me prendia à terra de tantas recordações agradáveis. Os paraenses, que bem conhecem os atrativos de sua terra, têm um provérbio aliterativo - "Quem vai para o Pará para". Muitas vezes pensei que eu seria mais um exemplo a acrescentar à lista. Mas o desejo de rever meus pais e de gozar ainda uma vez do prazer superior de uma sociedade intelectual, tinha conseguido sobrepor-se aos atrativos de uma região que pode com razão ser chamada o Paraíso dos Naturalistas. Durante esta última noite passada no rio Pará um tropel de pensamentos estranhos me acudiam ao espírito. Recordações do clima, cenário e modos de vida da Inglaterra acudiam com um vigor, somo nunca dantes experimentara, durante os onze anos de minha ausência. Eram imagens de espantosa nitidez que me vinham dos invernos sombrios, dos longos crepúsculos cinzentos, da atmosfera obscura, dos longos momentos de entardecer, das pontes frias, dos verões molhados; das chaminés das fábricas e dos bandos de sujos operários, dirigindo-se para o trabalho todas as manhãs, ao ouvirem os sinos das fábricas; das casas de cômodos, dos aposentos confinados, dos cuidados artificiais e das convenções escravizadoras. Para viver de novo entre estas cenas enfadonhas, eu estava abandonando uma zona de verão perpétuo, onde minha vida decorrera como a de três quartos do povo, à maneira dos ciganos, pelos rios sem-fim ou pelas florestas sem lindes. Estava deixando