O bom tempo termina de repente em princípios de fevereiro. Sobrevêm então violentas rajadas de oeste, em direção oposta à do vento geral. Dão muito pouco aviso, e a primeira geralmente apanha a gente de surpresa. Caem à noite e, soprando diretamente no porto, com a primeira lufada arrancam todos os barcos da ancoragem. Em poucos minutos uma porção de embarcações, grandes e pequenas, incluindo escunas de cinquenta toneladas, se entrechocam, confusas, na baía. Tenho motivos para recordar essas tempestades, pois apanhei uma quando cruzava o rio num bote de coberta, a um dia de viagem de Santarém. São acompanhadas de terríveis explosões elétricas, vindo o estrondo seco dos trovões quase simultaneamente com os relâmpagos. Torrentes de chuva seguem-se ao primeiro estampido. Depois o vento amaina e a chuva se reduz a uma neblina que dura quase até ao fim do dia seguinte. Passadas uma ou duas semanas de tempo chuvoso, o aspecto da região fica completamente transformado. Os campos amarelos dos arredores de Santarém sofrem, por assim dizer, uma erupção de verdura: as árvores empoeiradas e lânguidas ganham, sem ter perdido as folhas, velhas, nova roupagem de tenra folhagem verde. Rebenta admirável variedade de leguminosas de rápido crescimento, e trepadeiras verdes cobrem o solo, as moitas, os troncos das árvores. Lembra-se a gente do súbito advento primavera, nos climas do norte, depois de algumas chuvas quentes. Fiquei tanto mais impressionado com isso, porque nada se passara de parecida nas florestas virgens, em cujo seio eu estivera durante os quatro anos que precederam minha permanência nesse lugar. A relva das campinas é renovada e muitas árvores do campo, especialmente mirtáceas, que crescem abundantemente em certo trecho do distrito, começam a floração