Zoogeografia do Brasil

e nas matas do litoral a falta de uma lei de caça trouxe a nossa fauna à miséria atual.

O nosso belo lobo ou guará desapareceu quase completamente da província Cariri, e é raro nas outras. O magnífico cervo está também, em vias de rápida extinção, se leis severas não vierem pôr um paradeiro a sua estúpida caçada. Os outros veados, que eram tão comuns no Nordeste, servindo seu resistente couro à indumentária dos vaqueiros, desapareceram quase por completo da maioria de seus estados, embora assevere Neiva que "nas campinas baianas e goianas ainda são muito abundantes".

A ema era muito comum em nossos campos, sendo excelentemente descrita pelo príncipe de Wied, que a viu nos sertões da Bahia. Darwin encontrou-a no Uruguai, em bandos de vinte e trinta, e escreve: "Quando estes avestruzes se colocam em pequenas eminências e seu perfil se recorta no céu, formam lindíssimo espetáculo". Hoje, de longe em longe veem-se, já muito raras, em nossas savanas, e são ainda mais raras nas campinas do sul.

Não fosse a imensidade de nosso maior rio, os inextricáveis meandros de sua bacia, as selvas impenetráveis que a enquadram e os habitantes da Amazônia teriam dado à nossa tartaruga (Podocnemys expansa) o mesmo triste destino dos quelônios de Galápagos. Mas fazem o possível para tal, e o número vai decrescendo, graças à estupidez do povo e à incúria dos responsáveis. A mesma sede de extermínio persegue o peixe-boi e o pirarucu.

É assim, aqui fazendo desaparecer espécies típicas, justamente por sua limitada área, ali introduzindo espécies de alheias paragens, adiante, por essa achega inconsciente, provocando a substituição da fauna autóctone pela zooxena, que o homem vem baralhando

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