CAPÍTULO I
Histórico
A biogeografia é uma ciência relativamente recente.
Separados os homens por enormes distâncias, o conhecimento que tinham da natureza era limitado às plantas que os cercavam e aos grandes vertebrados com que estavam em diuturna relação.
Mesmo Aristóteles, apesar de todas as facilidades proporcionadas por seu real discípulo, limitara seus conhecimentos à fauna das regiões do contorno do Mediterrâneo e um pouco mais para o Oriente, quase nada sabendo da Índia, do Egito e mesmo da Mesopotâmia. A História Natural de Plínio é um mosaico de bons conhecimentos, retirados principalmente dos livros de Aristóteles, e de ficções das mais extravagantes. Os poucos que na Idade Média se dedicaram aos estudos, vestindo em vez da cota darmas o burel de monges, esses foram apenas os preciosos compiladores dos antigos filósofos, preferindo, quase sem exceção, a palavra de Aristóteles ao testemunho dos próprios sentidos. E os cruzados de volta da Palestina, e os menestréis que vinham de longínquas terras traziam, para os serões de seus castelos feudais ou como tema para as suas baladas, feitos darmas e canções de gestas ou romances de amor e de heroísmo. E nunca da pena dos escribas ou dos lábios dos bardos veio uma referência à natureza nova dessas paragens ignotas.
Foi com o ciclo dos grandes navegadores — o caminho das Índias pelo Cabo Tormentoso, as viagens de Marco Polo e Fernão Mendes Pinto (rivais na fantasia e no exagero), a descoberta da