daquele preto que, escravo e analfabeto integral, em 1847, quando Prado Junior lhe ensinou as primeiras letras, surgia, inopinadamente, poeta, com livro publicado e bem recebido pela crítica indígena, doze anos depois. O sucesso era realmente fora do comum e devia ter chocado o ambiente de maneira vivíssima. Por mais que o quisessem negar, o livro constituía um veemente libelo da raça desprezada, que demonstrava, assim, a sua capacidade de ascensão.
E o protesto não vinha com o tom declamatório das tiradas retóricas contra a opressão e contra a violência. Era um protesto risonho, referto daquele riso escarninho e vingativo que é o traço fundamental das sátiras.
Porque suas composições poéticas, se não têm nada de extraordinário como beleza exterior, se não denunciam nele um privilegiado das Musas e um eleito da Arte, punham de manifesto um observador arguto e um vivacíssimo crítico de costumes. Excedeu-se Alberto Faria o de Campinas (12) Nota do Autor, quando classificou o livro "mero arremedo formal de estrofes exóticas, sobre costumes e defeitos da época". E ainda, quando julgou "quase de todo serôdia" a terceira edição póstuma.
Se há muita cousa que envelheceu, como não podia deixar de acontecer num livro em que inúmeras composições nasceram do comentário fortuito e ocasional de fatos que se foram sucedendo, no pequeno âmbito da cidade provinciana, a obra possui, contudo, muita cousa