\"Digam lá o que quiserem,
fale embora o maldizente,
eu bem sei que tudo mente,
sei que o mundo tem razão;
se eu tivesse na algibeira
alguns cobres, que ventura!
mudava o nome, a figura,
ficava logo - Barão.\"
A sua obra-prima no gênero, isto é, o trabalho em que concentrou toda a dicacidade de seu estro mordaz, toda a bílis represa de seu velho rancor pelo contrafeito, por tudo o que pretende simular aparência nobre, por todas as adulterações que visam baralhar valores, misturando plaqué e platina, estabelecendo a fraude como norma consentida e mesmo aplaudida de vida social, encontra-se na poesia \"Serei conde, marquês e deputado\", jorro de ácido muriático a corroer o amor-próprio dos nobres e fidalgos feitos de encomenda pelo Império. Silvio Romero incluiu a composição na sua \"História da Literatura Brasileira\", indicando-a como das melhores do bardo baiano. Ouçamo-la:
SEREI CONDE, MARQUÊS E DEPUTADO
Pelas ruas vagava, em desatino,
em busca de seu asno, que fugira,
um pobre paspalhão apatetado,
que dizia chamar-se Macambira
A todos perguntava se não viram
o bruto, que era seu e desertara;
- Ele é serio - dizia - está ferrado,
e tem branco o focinho, é malacara.