Eis que encontra, postado numa esquina,
um esperto, ardiloso capadocio,
dos que mofam da pobre humanidade,
vivendo, por milagre, em santo ócio.
- Olá, senhor meu amo - lhe pergunta
o pobre do matuto, agoniado -
por aqui não passou o meu burrego,
que tem ruço o focinho, o pé calçado?
Responde-lhe o tratante, em tom de mofa:
- O seu burro, senhor, aqui passou,
mas um guapo Ministro fê-lo presa
E num parvo Barão o transformou!
-Ó Virgem Santa ! - exclama o tabaréu
da cabeça tirando o seu chapéu -
Se me pilha o Ministro, neste estado,
Serei Conde, Marquês e Deputado!
Gama invectiva, com o seu riso e o seu sarcasmo, os defeitos de seu tempo. Não é, note-se bem, um humorista, ao feitio inglês, comentador de fatos a que quisesse sarjar a nota do ridículo pelo jogo displicente da contradição. Como legítimo satírico, ao gosto clássico, ele é moralista, a quem calha otimamente a divisa célebre de Santeul, na tenda do Arlequim "Castigat ridendo mores". Gama quer realmente consertar malfeitorias, remover agravos e corrigir os erros do mundo, como tipo de ação que inegavelmente era e que trazia, portanto, como forro da própria personalidade, a tendência central do mestre-escola.