O precursor do abolicionismo no Brasil: Luís Gama

Eis que encontra, postado numa esquina,

um esperto, ardiloso capadocio,

dos que mofam da pobre humanidade,

vivendo, por milagre, em santo ócio.

- Olá, senhor meu amo - lhe pergunta

o pobre do matuto, agoniado -

por aqui não passou o meu burrego,

que tem ruço o focinho, o pé calçado?

Responde-lhe o tratante, em tom de mofa:

- O seu burro, senhor, aqui passou,

mas um guapo Ministro fê-lo presa

E num parvo Barão o transformou!

-Ó Virgem Santa ! - exclama o tabaréu

da cabeça tirando o seu chapéu -

Se me pilha o Ministro, neste estado,

Serei Conde, Marquês e Deputado!

Gama invectiva, com o seu riso e o seu sarcasmo, os defeitos de seu tempo. Não é, note-se bem, um humorista, ao feitio inglês, comentador de fatos a que quisesse sarjar a nota do ridículo pelo jogo displicente da contradição. Como legítimo satírico, ao gosto clássico, ele é moralista, a quem calha otimamente a divisa célebre de Santeul, na tenda do Arlequim "Castigat ridendo mores". Gama quer realmente consertar malfeitorias, remover agravos e corrigir os erros do mundo, como tipo de ação que inegavelmente era e que trazia, portanto, como forro da própria personalidade, a tendência central do mestre-escola.

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