O precursor do abolicionismo no Brasil: Luís Gama

escrevendo tolices de pateta,

consegue sem o crisma ser poeta:

é que Apolo sustenta bizarria

e cavalos precisa à estrebaria."

Boutade que ele afina e refina no "A um vate enciclopédico", quando conta que o seu herói - um assombro desses que entendem de tudo e sabem de "re omni scibile", e mais o adendo que Voltaire lhe aplicou do "quibusbam aliis", - também se pusera a fazer versos. Gama não pôde sopitar a sua exclamação de assombro nem a motivação claríssima que lhe ocorre do milagre. É que o sábio

"invadindo as baias do Parnaso,

o lugar conquistou do tal Pégaso!"

Estava no seu irrespeitoso feitio a volúpia desses epigramas acerbos que, numa síntese de perversidade diabólica, rasgam a carne dos seus alvejados. Adquirem a consistência e perpetuidade dos provérbios e das máximas. Até os mestres de direito, os que ensinam a aplicar a lei e os que repartem a justiça, até esses, entre os quais tinha amigos, dos mais queridos e amados, não conseguem escapar à sua língua ferina. Desfecha-lhes esta seta venenosa, que ainda está vibrando, que vibrará por muito tempo ainda:

"Doutores da Verdade, do Direito...

mas que ao 'torto' também lá dão seu jeito."

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