O precursor do abolicionismo no Brasil: Luís Gama

Calcule-se, assim, o que não diria do dinheiro esse endiabrado que sabia encontrar o gracejo pungente para abater e humilhar a vaidade alheia. Há, pelas Trovas inúmeras referências ao ouro. Nenhuma terá, entretanto, a força e a vivacidade viperina desta oitava do \"Que mundo é este?\":

\"O poder é só dos Cresos,
a ciência é de encomenda;
sem capital e sem renda,
com pouco peso - o que vale?
Talentos - palavrões ôcos,
que nunca deixaram saldo...
Não há sustância no caldo
que não tempera o metal\"

Contra os políticos, então, especialmente aqueles que transformam o patriotismo numa excelente e rendosíssima indústria e que, à força de declamações líricas, se apegam às arcas do Tesouro ou se envolvem nas negociatas que se fazem com o beneplácito ou com o silêncio dos amigos do poder, contra esses, Gama é implacável. Aqui ele assume integralmente o papel de Aristófanes, clamando contra os \"chuchadores\" do regime, e com as mesmas armas do ridículo. Se quisesse, ou melhor, se pudesse citar, teria de encher páginas e páginas, máxime se enveredasse para a produção posterior às duas primeiras edições do livro. Não é possível. Minha promessa de documentar abundantemente o estudo, obriga- me a comedimento neste capítulo, porque tenho ainda

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