libras esterlinas, haviam sido pagas ou, antes, dadas de mão beijada, como indenização aos concessionários da projetada Estrada de Ferro Pedro I, e cujos pretensos direitos, — contestados com os melhores fundamentos por todos quantos no antigo regímen foram incumbidos de dar parecer a respeito, — foram também sempre negados à vista de tais pareceres pelos governos da monarquia, que se sucederam no período em que foi agitada e debatida a questão.
Tristemente abalado nosso espírito, impressionada nossa alma de patriota, vendo trôpegos, comprometedores e perigosos os primeiros passos da nascente República, decidimo-nos a fazer oposição ao governo do Marechal Deodoro da Fonseca, se não retrocedesse do rumo que levava. Apenas chegado ao porto da capital federal, em uma pequena alocução de agradecimento, por nós dirigida à Comissão do Club Militar, que a bordo do "Almirante Barroso" nos fora dar as boas-vindas, em termos claros externamos aquele nosso propósito, sendo muito apoiado pelo então coronel Frederico Solon, um dos membros da referida comissão.
O Marechal Deodoro da Fonseca, homem de magnânimo coração, alma aberta às expansões afetuosas, espírito educado no rigoroso cumprimento do dever, que ele venerava como o maior de todos os cultos, soldado votado com acendrado patriotismo ao serviço da nação, bravo entre os mais bravos no campo de batalha contra os inimigos da pátria mas alheio completamente aos movimentos políticos do país, sempre afastado da administração pública, não tinha, infelizmente, conhecimento dos homens, com quem entrava na árdua, difícil e ingente tarefa da organização e consolidação do novo regímen: não dispunha, sequer, de rudimentos da ciência de governar. Demais, seu espírito, há longos anos trabalhado pelos sofrimentos de uma enfermidade pertinaz que havia invadido e desequilibrado quase todo seu organismo, enfraquecia-se dia a dia, e, nestas condições, poderia ser facilmente iludido, ou melhor, ilaqueado em sua boa-fé.