Homens e fatos do meu tempo

Quando nos transportávamos da cidade do Serro para a da Formiga, deu-se conosco, em caminho, um fato trágico, que constitui a reminiscência mais remota, que conservo, de minha infância. Surpreendidos por temerosa tempestade, nas proximidades do Arraial de Cajuru, desabou sobre nossa comitiva uma faísca elétrica, matando a duas pessoas da mesma, e ferindo gravemente meu irmão mais velho Antonio Olyntho.

§2.º

Aprendi primeiras letras un peu partout, aqui, ali, acolá, em aulas de ensino público de diversas cidades por onde íamos peregrinando, na tarefa penosa e despremiada que coube a meu saudoso pai, de distribuir justiça aos povos das diversas comarcas que perlustrou.

Tenho, porém, a impressão de que, se cheguei a aprender a ler e a escrever aos sete anos de idade, não foi, propriamente, naquelas aulas, confiadas, em geral, a professores brutais e ignorantes, mas graças às pacientes lições que me eram dadas, em casa, por meu pai e por minha mãe, Maria Josephina dos Santos Pires, cujos nomes pronuncio sempre com a mais enternecida recordação, e perante cuja memória benfazeja me curvo, agradecido e reverente, ao escrevê-los, com mão trêmula de emoção, na primeira página deste livro de saudades.

§3.º

Tendo eu concluído o curso primário e achando-nos residindo em Sete Lagoas, onde não havia professor público de latim e francês (que era o primeiro leite de ensino secundário que nos davam a beber), meu pai colocou-me, como interno, na casa de um mestre dessas disciplinas,

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