Homens e fatos do meu tempo

Que diferença da mentalidade dos estudantes de meu tempo, quando se julgavam contrariados em seus desejos, quase sempre desarrazoados!...

Publiquei, a tal propósito, uma crônica, que aqui transcrevo, datada de 13 de dezembro de 1919.

Ei-la:

"Houve a 5 do corrente, como sabem, no Rio de Janeiro, por ocasião dos exames de preparatórios a que se está procedendo no Colégio Pedro 2.º, uma revolta, uma assuada, um motim, ou que melhor nome tenha, de estudantes, contra as bancas examinadoras de francês e de história natural.

Tal desaguisado, que encheu, por momentos, a tranquila casa de Minerva, com o fragor belaz e o retintim das armas de Marte, foi provocado, segundo alegam os rapazes, pelo excesso de rigor no julgamento das provas, ou pela ignorância acintosa dos examinandos, conforme afirmam os professores.

Seja, porém, como for, o fato é que, graças à brandura natural da índole brasileira, tudo, em breve, se acalmou, só tendo havido violências contra os vidros e os móveis do Colégio.

Esse acontecimento, noticiado por alguns órgãos da imprensa carioca em locais com títulos e subtítulos berrantes, havendo, mesmo, um deles que epigrafou seu comentário com o alarmante dístico — O Colégio Pedro 2.º em pé de guerra; esse acontecimento nada mais é do que a reprodução eterna do eterno conflito entre a rebeldia ingênita e irrefletida, a irreverência estouvada e, por vezes, jocosa, dos moços, e a austeridade, algum tanto necessária, e o autoritarismo, às vezes excessivo, dos velhos.

Quando eu começava a ser estudante (assim o digo, em vez de quando eu era estudante, porque ainda me considero tal, apesar — ai de mim! — de já desbotado

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