Homens e fatos do meu tempo

pelas primeiras neves da idade); nos meus primeiros tempos de estudante, tive ocasião de assistir a uma dessas muitas estraladas, cujos ecos, já muitíssimo adormecidos, porventura ainda ressoam pelas quebradas das serranias históricas que muram a nossa velha e saudosa ex-capital.

Foi em 1881, no Liceu Mineiro, de Ouro Preto.

Procedia-se ao exame de latim, que empalidecia de terror as gerações que precederam à minha e algumas das que a seguiram.

Os examinadores dessa língua, chefiados pelo professor da matéria, no Liceu, tinham como lema a conhecida frase Turpe est nescire latiné (é vergonha não saber latim), que Juvenal dizia a seus conterrâneos, quando a língua de Cícero se corrompia juntamente com a nacionalidade.

O rigor, portanto, em tal exame, era extremo: exigia-se a versão, para o latim, de um trecho clássico, português; a urna fatídica encerrava pontos relativos a trechos de toda a obra de Horácio, de Virgílio e de Tito Lívio; o examinando era obrigado a medir os versos latinos, dando-lhes a respectiva discriminação e mencionando todas as figuras poéticas empregadas. A porcentagem das reprovações era, bem se vê, de 70 por 100.

Ora, aconteceu que, naquele remoto ano de 1881, as cousas, segundo o critério, tão frágil e tão errôneo, dos da minha geração, haviam chegado ao auge. Era necessária uma reação, e esta se deu violenta, descomedida, brutal, insolente, grosseira e insultuosa: pasquins impressos, acrósticos contendo, entre chufas e remoques, os nomes respeitáveis dos examinadores, epigramas acrimoniosos, escritos em latim correto e em latim macarrônico, — tudo isto distribuído furtivamente, à noite, pelos corredores das casas, por estudantes com barbas postiças e

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