Quem visse, deslizando, como uma sombra, pelas ruas ladeirentas de Sabará, a figura de Mestre Caetano, sempre trajado de preto, com seu amplo chapéu de abas largas, seus modos canhestros, sua modéstia encolhida e arisca; quem visse aquele homem de barba intonsa emoldurando um rosto onde brilhava um olhar cheio de doçura, e onde se abria uma boca sempre cheia de sorrisos; quem assim o visse, mal cuidara que naquela figura que se esgueirava como uma sombra, se ocultava um profundo conhecedor do vernáculo, arguto intérprete de Camões e um apaixonado cultor da língua de Cícero, cuja complicada sintaxe arrevesada lhe era mais que familiar.
Ele, certo, não era, de modo algum, da categoria daqueles mestres que Carlyle debuxou com cores tão vivas quão reais, e que, há poucos dias ainda, "Propercio" (evidentemente, um pseudônimo) citou no Jornal do Brasil, isto é, "uma máquina de mover verbos", sem a chama de combustão da alma, sem essas energias misteriosas da vida que comunicam o espírito com o espírito e acendem o pensamento ao fogo do pensamento.
Não! Seus discípulos sobreviventes que aí estão, em número incontável, poderão atestar como, até em seus últimos dias, ele soube "acender o pensamento ao fogo do pensamento".
Quando, há anos, faleceu Souza Martins, esse extraordinário docente da "Escola Médica de Lisboa", um outro médico e professor de grande nomeada, como ele, Julio de Mattos, dissertando sobre o mesmo, estabeleceu, com muita justeza, a distinção entre o "professor" e o "mestre" propriamente dito, — distinção que, mais de uma vez, eu tenho repetido, tão verdadeira e expressiva a julguei sempre. É a seguinte:
— Saber muito, — disse ele, — conhecer na sua história e nas suas últimas aquisições a ciência ensinada; ter um profundo sentimento das dificuldades que ela