reserva aos que começam; utilizar com igual facilidade os recursos da análise e da síntese, — tais são as preciosas e raras qualidades, indispensáveis ao professor. Mas, no mestre, outras têm de integrar-se ainda, excepcionais, essas, e absolutamente inacessíveis ao esforço da vontade: tais são a originalidade especulativa, que sugestiona os espíritos e bruscamente ilumina horizontes novos da ciência; a crítica iniciadora, que resulta de uma sistematização pessoal de doutrinas; a eloquência que é a espontânea identificação da palavra com a ideia; enfim, abraçando e dominando tudo, um profundo e vasto amor da mocidade. Porque, se as relações entre o "professor" e o "aluno" se interrompem e se suspendem, transpostas as aulas, as do "mestre" com o "discípulo" são incessantes e supõem uma afinidade intelectual que a natureza humana dificilmente comporta sem uma larga base afetiva.

Pois bem; Mestre Caetano possuía "esse profundo e vasto amor da mocidade, essa larga base afetiva", os quais o tornavam por sua vez tão querido de seus antigos discípulos, que estes, num tocante gesto de amor e de piedade filial, fizeram erigir-lhe um túmulo, — tão modesto como foi modesta sua vida, — no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, onde, a esta hora, ele dorme o doce sono que o Eclesiastes garantiu aos que bem trabalhavam: "Dulcis est somnus operanti".

Na lápide desse túmulo (se ainda se usassem epitáfios em latim), poder-se-iam gravar aqueles versos tão formosos e tão expressivos, donde se evola um tão doce perfume virgiliano e pagão, e que foram encontrados — dizem — na lousa de um túmulo ignorado de ignorada aldeia italiana:

"Quisquis es, opiliove bonus, bona vel caprimulga,

Siste pecus, cineri munera ferque sacro;

Da violas tumulo, spargat dulcissima vina.

Cantharus, et tepido lacte madescat humus".