Homens e fatos do meu tempo

começando tal ideal a sorrir-me há mais de vinte anos, quando eu era ainda estudante na velha e conceituada Escola de Farmácia de Ouro Preto.

Vendo, agora, esse meu anelo de moço corporificado aqui, na nova Capital de nosso Estado, destinada a ser um dos mais pujantes centros intelectuais de nossa pátria; e, — o que é mais — tendo tido a altíssima honra de vir a ser um dos colaboradores desta grande obra, — é com a alma cheia de suaves recordações do passado, com o coração alentado por gratas esperanças no futuro, e com a mente compenetrada das graves responsabilidades que assumo no presente, que venho hoje recomeçar convosco meus novos estudos sobre Farmacologia".

Foi assim, com essas palavras eloquentes e proféticas, que, a 30 de abril de 1913 — já se vão 24 anos —, Aurelio Pires iniciou, nesta Faculdade, a sua aula inaugural do curso de Farmacologia de que foi o primeiro e insubstituível catedrático.

Essa voz que por tantos anos a eito, aqui, neste recinto, convincente e sábia, falou a numerosas gerações de estudantes, na luminosa tarefa de ensinar, essa voz magnífica de mestre e de artista acaba de emudecer, definitivamente...

Não mais ressoará aqui, para o nutrimento de nossa inteligência e para o encanto dos nossos ouvidos.

Muda e extinta está, para sempre, essa voz. Mas as suas ressonâncias aqui perdurarão sempre, como sempre a recordação dele há de perdurar, palpitante, luminosa e viva, em nossos corações e nesta Casa, seu grande sonho, de que foi o mais antigo e extremo idealizador e de que era um dos maiores ornamentos.

Mas a vida continua... tem de continuar. Alguém deve suceder na fila ao que tombou. Cabe-me a difícil e pesada tarefa.

Ao recebê-la, em caráter provisório, por imperativo da Congregação, sopesei bem o encargo de substituir

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