interinamente ao velho mestre que a doença e a idade já tinham afastado da cátedra. Ele era, porém, ainda entre os vivos. A missão de substitui-lo poderia atemorizar-me o espírito, pelo receio da responsabilidade; mas não me amargurava o coração.
Entretanto, quis o destino, imprevisto e vário, que Aurelio Pires tombasse, inopinadamente, antes do início deste curso.
E, assim, é com os olhos mareados de lágrimas que vimos para esta aula inaugural do presente ano letivo, sob a dolorosíssima impressão do desaparecimento do grande Mestre e amigo, cuja morte tarja de luto e de tristeza o nosso primeiro contato na cadeira de Farmacologia, que ele por tantos anos iluminou.
Reviver-lhe aqui, hoje, a memória e a figura inconfundível e magnífica numa ressurreição vivificada pelo culto da nossa imensa saudade e pelo preito de justo e sincero louvor às suas peregrinas virtudes de homem e de mestre — será sem dúvida, meus caros discípulos, a melhor e a mais devida maneira, embora seja a mais comovente, de iniciar o nosso curso de Farmacologia.
É praxe, nas aulas inaugurais, começar o professor por dar uma síntese da disciplina que lhe cumpre lecionar, salientando, em traços largos, a importância e a beleza da matéria que ensina.
Para destacar e engrandecer a beleza e a importância do estudo da Farmacologia não encontraria eu, neste instante, caminho mais sugestivo do que falar-vos sobre um dos seus mais brilhantes cultores em nosso meio e um dos seus mais autorizados mestres.
E que tema mais sugestivo e suavíssimo do que este, de retraçar o perfil de Aurelio Pires, cuja vida defluiu por entre os homens e as cousas em fulgurações de inteligência e cintilações de bondade?
Nascido em Serro, berço privilegiado que tem dado a Minas tantas inteligências ilustres, não poderia Aurelio