AS CARTAS
Toda a obra de Euclides da Cunha é nitidamente objetiva. Embora transpareça, através das figuras que descreve, dos fatos que narra ou das conclusões a que chega, o autor de ideias definidas e claras, contudo, não há na sua obra confissão pessoal de caráter íntimo. É mesmo raro nela encontrar-se qualquer opinião em primeira pessoa.
Afrânio Peixoto, sempre chamado a depor toda vez que dele se fala, pelo carinho com que guarda na Academia Brasileira, a herança da cadeira de Castro Alves, de que é digno, pôde dizer mesmo que não falou nunca de um regato ou de um capricho de mulher... Tendo um grande pudor pessoal, que o fazia "vexar-se às pilhérias sem limpeza", e lhe deu hábitos digníssimos de castidade, Euclides da Cunha conservou sempre grande recato para os seus sentimentos íntimos.
Ninguém, entretanto, mais cioso e melindroso no culto dos seus afetos. Poucos poderão contar tantos amigos como ele os teve. E que amigos! As suas cartas depõem. A maior coleção, que agora se completará, foi a doada pelo coração, tão grande