Gelou o seio aos cortesãos sequazes —
Uma alma nova ergueu-se em cada peito,
Brotou em cada peito uma esperança
De um sono acordou — firme o Direito —
E Europa — o mundo, mais que o mundo a França,
Sentiu n'uma hora sob o verbo seu
As comoções que em séculos não sofreu!...
Esta a última poesia das Ondas:
ÚLTIMO CANTO
Amigo!... estas canções, estas filhas selvagens
Das montanhas, da luz, dos céus e das miragens
Sem arte e sem fulgor são um sonoro caos
De lágrimas e luz, de plectros bons e maus...
Que ruge no meu peito e no meu peito chora,
Sem um fiat de amor sem a divina aurora
De um olhar de mulher...
... perfeitamente o vês,
Não sei metrificar, medir, separar pés...
— Pois um beijo tem leis? a um canto um num'ro guia
Pode moldar-se uma alma às leis da geometria?
Não tenho ainda vinte anos.
E sou um velho poeta... a dor e os desenganos
Sagraram-me mui cedo, a minha juventude
É como uma manhã de Londres — fria e rude...
Filho lá dos sertões nas múrmuras florestas
Nesses berços de luz, de aromas, de giestas —
Onde a poesia dorme ao canto das cachoeiras
Eu me embrenhava só... as auras forasteiras
Me segredavam baixo os cantos do mistério
E a floresta sombria era como um psaltério