Em cujas vibrações minh'alma — ébria — bebia
Esse licor de luz e cantos — a Poesia...
Mas cedo como um elo atroz de luz e pó
Um sepulcro ligara à Deus minh'alma... só
Selvagem, triste e altivo eu enfrentei o mundo
Fitei-o então, senti de meu cérebro no fundo
Rolar iluminando a alma e o coração
C'o'a lágrima primeira — a primeira canção...
Cantei — porque sofria — e, amigo, no entretanto,
Sofro hoje — porque canto...
Já vês, portanto, em mim esta arte do cantar
É um modo de sofrer, é um meio de gozar.
Quem há que messa aí de uma lágrima o brilho
Pois erra-se sofrendo?...
Eu nunca li Castilho
Detesto francamente esses mestres cruéis
Que esmagam uma ideia sob quebrados pés...
Que vestem c'um soneto esplêndido, sem erro,
Um pensamento torto, encarquilhado e perro
Como um correto frack, no dorso de um corcunda!...
Oh! sim, quando a paixão o nosso ser inunda
E ferve-nos na artéria, e canta-nos no peito
Como dos ribeirões o borbulhoso leito,
Parar — é sublevar
Medir — é deformar!...
Por isso amo a Musset e jamais li Boileau.
2°
Esse arquiteto audaz do pensamento — Hugo...
Jamais sói refrear o seu verso terrível
Veloz como a luz, como o raio incoercível!...
Se a lima o toca, ardente, audaz como um corcel
Às esporas revel
Na página palpita e ferve e freme e estoura