do poder social e político com o poder econômico; é em suma mostrar a fundamental diferença entre esse status, essa "ordem", que se traduzia por tantos privilégios e regalias, e a situação dos tempos modernos, onde os produtores já olham para o funcionariato, para a burocracia, para a própria situação do savetier da fábula, como situações ideais, onde na falta da riqueza se pode encontrar refúgio e paz. Observe-se a descapitalização, a perda de substância que se opera em nossos dias, em contraste com o essor, o enriquecimento formidável da época colonial, e fácil é avaliar porque isso se dá: é porque produzir já supõe risco, e ninguém está disposto a enfrentar dois riscos simultâneos: o inerente aos negócios e o resultante desse regime de insegurança, de desprestígio, de suspeita eterna, desse ambiente de má vontade e prevenção que pesa sobre os produtores e criadores da riqueza do país. Mais do que qualquer outra, a criação econômica supõe ambiente e um clima; um clima de liberdade, um ambiente de calma, de confiança, de segurança. Não se cria riquezas acossado pela polícia. Não se produz sob ameaça. Sob ameaça, foge-se, emigra-se, sacode-se o pó da sandália e nunca mais se volta à região ou ao país em que assim se é tratado. Por isso, a legislação colonial longe de desarmar os proprietários, a primeira coisa que fazia era obrigá-los a se armar: até os dentes se poderia dizer com propriedade, à vista da panóplia de espingardas, de chuços, de bestas, de pilouros, que exigia dos proprietários da época.
Não era só isso. Outras medidas de caráter mais palpável para o grande número podem ser assinaladas ainda, visando o mesmo objetivo de proteção às empresas e aos capitais. Deu-se aos donos de engenho o privilégio de nobreza, passando eles a chamar-se Senhores