sociedade de classes, não de clãs isolados. Depois, deu origem a um comércio intensivo, não somente ligando as vilas a seus municípios, mas interligando Minas e o resto do Brasil — foi a primeira forma de mercado interno que o Brasil conheceu. Necessitados os senhores das minas de escravos, roupa, artigos de alimentação, ferramentas, objetos de luxo — e tendo dinheiro para pagar, pois o ouro dava muito e a maior parte da produção ficava em mãos dos mineiros —, imediatamente surgiram formas de comércio, com a Bahia, com o Rio, com o Sul — escravos que entravam pela Bahia, muares criados nos campos de Curitiba, artigos de toda espécie pelo "caminho novo" do Rio de Janeiro...
Assim, contrastando com a independência do senhor de engenho, que não conhecia o comércio e vivia em regime autárquico em sua casa-grande, o senhor de minas, geralmente comerciante, precisava comerciar com fazendeiros do município e com agentes de todas as formas de comércio. Aliás, deve-se dizer que, na realidade, a verdadeira "guerra dos Emboabas", que não conheceu tiroteios nem batalha campal, e que duraria todo o século do ouro, foi a do mascate, logo estabelecido em vendas e que acabaria senhor da mineração, tomando a jazida das mãos do primeiro ocupante, endividado e arruinado. Neste comércio deve ser incluída a atividade bancária, segundo pesquisas recentes do prof. Ferreira Carrato; a prática da usura, não obstante as leis da Igreja, se fazia largamente nas Minas Gerais.
Daí nasceram precoces formas de convivência social e, principalmente, de vida associativa e governo democrático. Mesmo de uma opinião pública. Que foi a Inconfidência senão a presença de uma "opinião pública", nas Minas? Como caracterizar o papel daqueles frades giróvagos e pouco afeitos à obediência, às regras sagradas de sua família religiosa, mas que pregavam coisas violentas contra os representantes do poder, senão formas de opinião pública? E a influência dos ermitães, viajando de um lugar para outro, organizando centros de romaria, do cipo Congonhas e Caraça, senão incipientes focos de opinião pública? E as "juntas"? E as "Câmaras Municipais"?