contanto que o rei não tivesse qualquer poder real. Ele conservaria a majestade, a posição, a prioridade — a \"arquia\" —, mas não governaria. \"Le roi règne, ne gouverne pas\".
Uma página de Rui Barbosa define com absoluta exatidão esta mentalidade.
A base do nosso regime, a sua única base, é a democracia. Na administração dos nossos interesses políticos, a soberania do povo é o alfa e o ômega, o princípio e o fim. Nenhuma autoridade, seja qual for, coparticipa com ela nesta supremacia, cuja expressão ideal não tem por limites senão, de uma parte, o direito individual reconhecido por ela mesma; de outra, o princípio da própria conservação, a renunciabilidade do seu poder nesta supremacia, cuja onipotência só conhece duas impossibilidades jurídicas, não propriamente limitações da sua esfera, mas sublimidades da sua natureza — a de compor-se de individualidades mutiladas, opressas, e a de desistir da sua existência suprema: o suicídio pela supressão da liberdade civil sob organizações socialistas, e o suicídio por abdicação em favor de uma oligarquia ou de um autocrata; a supressão de si próprio pela servidão política ou civil. (Muito bem.)
Nas nossas instituições orgânicas, portanto, só o elemento popular é eterno, substancial, imutável. (Apoiados.) A monarquia não passa de um acidente, bem que um acidente útil, um acidente eminentemente respeitável, um acidente digno de perpetuidade e seguro dela, enquanto souber servir ao país, submetendo-se a ele, enquanto não achar pouco o ser a imagem venerada e influente da majestade, sem a majestade efetiva, cujo cetro pertence intransferivelmente à opinião. (Apoiados.)
Este dogma não está gravado só no pergaminho de uma Carta; tem por tábuas esta lei das leis as páginas de uma revolução triunfante, que, impondo a abdicação a um príncipe, afirmou o seu direito de impô-la à dinastia ou ao trono. Em presença desse fato decisivo a outorga da carta, que nunca foi senão uma expressão convencional, perdeu a própria aparência da sua realidade como título de preeminência constitucional em favor da coroa. A soberania da nação ficou sendo, pois, o que devia ser: um alto decreto da nação mesma, senhora de si e consciente da sua prerrogativa inalienável. (Apoiados.) Nenhuma dinastia reina senão por graça dela; nenhuma é senão uma dependência da sua vontade, uma feitura das suas mãos, um instrumento do seu governo, um meio para o seu desenvolvimento livre. Esse meio, esse instrumento pode ser um meio favorável ao progresso, um grande auxiliar da liberdade, e então é inacessível às revoluções; mas pode, ferindo a liberdade, contrariar o progresso, e, nesse caso, mais cedo ou mais tarde, terá infalivelmente a sorte que merece. (Apoiados.)
Não é uma linguagem revolucionária, esta; é a mais constitucional e a mais monárquica das linguagens; porque é a única que, não inspirando à monarquia falsas presunções, mostra-lhe que o segredo da