"A incapacidade para considerar mais de uma ideia, de cada vez", diz Joussain — "já se revela no gênero de teatro e de romance que agrada às massas. Para o maior número, o herói deve ser sem fraquezas. Sua generosidade, sua bondade, sua grandeza d'alma, seu devotamento não comportam as limitações que o instinto egoístico de conservação lhe impõe na vida real. Pelas mesmas razões, o traidor deve ser tão negro quanto possível. O retrato do jesuíta Rodin, no Judeu Errante, de Eugênio Süe, é, sob este aspecto, um triunfo, entre muitos outros. Os romances que gosam do favor popular se conformam, em geral, a esta regra. Os tipos devem ser de uma peça única. O prestígio durável dos romances de Alexandre Dumas é um bom testemunho disso. Vitor Hugo, que, por tantos traços de seu gênio, é tão profundamente popular, pratica, também, voluntariamente, este idealismo simplificador. O bispo Myriel, Jean Valjean, Javert, nos Miseráveis; Gauvain, Cimourdain, o Marquês de Lautenac, no Noventa e Três, assim como Torquemada, o drama que traz seu nome, são tipos idealizados em que, o que há de original em cada uma das personagens, é concebido em toda a perfeição de que é suscetível, como se uma ideia platônica se individualizasse e se incarnasse nele. O próprio público letrado, ainda que mais culto, permanece simplista, sob muitos aspectos. Ele se parece com esses espíritos medíocres, que, consagrando-se a uma ordem única de estudos, fazem os maiores esforços já não digo para neles brilharem, mas para fazerem figura, e que não podem conceber possa um homem ser eminente em várias especialidades. Para eles, revelar várias formas de talento é prova de não ter talento para cousa alguma".(6) Nota do Autor