Uma outra prova da incapacidade das massas para encarar várias ideias, simultaneamente, revela-se na tendência frequente em se atribuir aos acontecimentos complexos não um conjunto de causas, mas uma causa única. Dir-se-á, por exemplo, que a revolução francesa de 1789 teve como causa o déficit financeiro ou a miséria do povo. Também por isso é que, em uma crise econômica, o consumidor imputa, de bom grado, a carestia da vida e as crises às manobras dos assambarcadores ou à ganância dos varejistas.(7) Nota do Autor
A incapacidade das massas para levarem em linha de conta, em suas decisões, pormenores dos fatos; sua repulsa a condições que estabeleceriam modalidades intermediárias — tornam-nas, particularmente, sugestionáveis aos juízos incisivos que, com uma frase, qualificam situações complexas, consagram individualidades ou as votam à abjeção. A uniformização dos modos de encarar os problemas comuns que preocupam um povo revela o prestígio dos raciocínios simplificadores. A propósito de qualquer questão nacional, qualquer cidadão de poucas letras sente-se habilitado a opinar de modo peremptório, e o juízo de um, é o juízo de todos. Em vão, tentará a crítica judiciosa pôr a limpo os vícios de raciocínio que conduzem a certos conceitos difundidos entre a massa. Ela não arredará pé, por mais persuasivos que sejam os argumentos em contrário.
"Na formação das lendas, ao mesmo tempo que a falta de espírito crítico, a tendência para simplificar as cousas, própria da mentalidade das multidões, se faz sentir: os acontecimentos se reduzem a alguns fatos salientes e os móveis dos que deles participaram, a sentimentos simples. A revolução francesa se reduz a dois traços: o povo padeceu, durante séculos, na escravidão e a revolução o libertou. A imaginação do presente ou