XXXIII – Da capitania de Porto Seguro o primitivo donatário foi Pero do Campo Tourinho, que em 1535 assentou a primeira vila no monte vizinho ao sítio em que Cabral fizera plantar a cruz. Esse donatário teve no Brasil a existência atribulada que se conhece. Em Porto Seguro, a 24 de novembro de 1546, foi preso, logo submetido a longo processo e afinal remetido acorrentado ao Tribunal da Inquisição de Lisboa, por crime de heresia e blasfêmia, — escreve Capistrano de Abreu nos Prolegomenos citados, p. 81. Para o fato encontrou o mestre explicação no que denunciou o sexagenário Gaspar Dias Barbosa à mesa do Santo Ofício na Bahia, embora com seus dizeres não concordem em tudo os do processo ainda existente de que têm sido divulgados alguns excertos: "na capitania de Porto Seguro André do Campo e Gaspar Fernandes, escrivão, e uns frades da ordem de S. Francisco e outras pessoas que lhe não lembram ordenaram autos e tiraram testemunhas e prenderam a Pero do Campo, capitão e governador da dita capitania, pai do dito André do Campo, e o enviaram preso ao reino por parte da Santa Inquisição, dizendo que era herege e depois ouviu dizer que fora aquilo inventado para o dito André do Campo ficar em lugar do pai, como ficou". – Primeira visitação às partes do Brasil (São Paulo, 1922), p. 2. – Antes disso em Lisboa, a 13 de setembro de 1543, João Barbosa Paes denunciara Pero do Campo por se dizer papa e rei e fazer trabalhar aos domingos. Levado para o Reino, como ficou dito, ainda em 1550 respondia a interrogatório. Do que se conhece desse processo, uma cousa ressalta ao primeiro: era Pero do Campo homem de língua solta e mordacidade exagerada. Vivia ainda provavelmente em Lisboa, em 1554, porque, a 19 de novembro, com sua mulher D. Inez Fernandes Pinta renunciava em favor de seu filho Fernando do Campo os direitos da donotária, – conforme a Varnhagen anotou Capistrano de Abreu – Historia geral (Rio de Janeiro, 1906), 3ª ed., tomo I e único publicado, p. 255. Falecendo Fernando do Campo sem filhos, legou a capitania à sua irmã D. Leonor do Campo, casada com Gregorio da Pesqueira, a qual obteve confirmação por alvará de 30 de maio de 1556. Outro alvará, de 16 de junho de 1559, concedeu-lhe licença para vendê-la ao duque de Aveiro, venda concluída em 10 de agosto