Euclides da Cunha a seus amigos

Entretanto, em todas estas páginas, mesmo nas que contêm um desabafo desesperado, há um reativo forte de heroicidade e de estoicismo.

Quando se publicou a admirável correspondência de Taine, tiveram os editores o cuidado de citar a recomendação do eminente pensador: "As únicas cartas ou correspondências que poderão ser publicadas são as que tratam de matérias puramente gerais ou especulativas, por exemplo, de filosofia, história, estética, arte, psicologia".

Não precisaria Euclides da Cunha fazer recomendação semelhante, porque na sua correspondência, onde há sempre uma tônica original, encontra-se uma apreciação de episódio coevo, figura da época, questões gerais de ciência ou de literatura. As próprias referências pessoais são elucidativas de fatos de sua vida ou dos amigos eminentes com quem se correspondia, e foram muitos.

Convém considerar, e o próprio papel, grafia e às vezes a diversidade de tratamento em que eram feitas estas cartas o revelam, que todas, talvez sem uma exceção, se compunham ao correr da pena e da inspiração, sem folga nem calma sequer para uma composição mais cuidada, mas nesse descuido e nesse abandono quanta faiscação de inteligência e quanta ternura de afeição!

Não haverá na história de nossa cultura muitas figuras que tivessem transposto o seu pensamento e o seu sentimento para as folhas fugidiças de cartas, que a completam e modelam, através de uma das maiores e mais

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