Euclides da Cunha a seus amigos

que por aí se citam. Num belo lance, saltando sobre as nossas fronteiras, foi tão grande o triunfo, que nobilitou o próprio fragmento de superfície europeia, onde nasceu a nossa história. Como já deve saber pelos jornais, a Academia não foi indiferente àquela medida — primeiro ato exterior de propagação de nossa língua — e avaliou-lhe o alcance numa moção lucidamente redigida por José Veríssimo (a qual, entre parenteses, ainda não lhe foi remetida por indesculpável desídia do secretário interino, eu). Pouco importa que oficialmente não se tenha dado o devido relevo a um ato que foi a expressão mais eloquente da nossa incorporação definitiva na civilização. Bem sabe que a gratidão oficial não vai além da órbita apertada dos satelitezinhos, que giram submetidos inteiramente às forças centrais dos grandes astros... Talvez por isto mesmo ando eu perdido numa parábola, perenemente indefinida, de cometa. Mas não prolonguemos este aspecto transcendental da psicologia astronômica e imaginosa...

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Rio, 5-1-909.

Porchat, o teu cartão de festas veio demonstrar-me mais uma vez que valho menos do que os amigos que tive a fortuna de adquirir. Como sempre, tiveste a primazia nesta manifestação superior do coração e do espírito. Tanto pior para mim; tanto pior para este espírito eternamente distraído e instável, sempre a trocar não sei quantas idealizações impossíveis pelas melhores

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