Os sertanejos que eu conheci

de Frei José M. Audrin constatam a sobrevivência de padrões culturais típicos da época colonial, registrados há mais de um século por numerosos viajantes que percorreram as regiões focalizadas por este livro.

O que sobretudo impressionará aos leitores nestas páginas claras e tranquilas é a constatação de um Brasil arcaico, velho e quase oitocentista, a enformar a paisagem social, econômica e não poucas vezes política, de milhares e milhares de brasileiros na bacia do Tocantins, do Araguaia e do Xingu. Os mesmos hábitos alimentares, de moradia, de higiene, do vestuário, de exploração agrícola, observados, por exemplo, no início do século XIX, pelo inglês Henry Koster nas províncias nordestinas, por Augusto de Saint-Hilaire ou por Castelnau e tantos outros viajantes. No fundo, uma situação que é de pioneirismo, frente às numerosas e difíceis condições de uma assimilação rápida do progresso.

Não sendo etnólogo, não sendo o que se consideraria um cientista, estas páginas de Frei José M. Audrin ganham por isso mesmo um sentido profundamente dramático. Ferem essa cruciante problemática brasileira que se sintetiza no conflito entre dois Brasis, o arcaico e o moderno, como já observara Euclides da Cunha em seu famoso livro e o repetiria ainda recentemente o francês Jacques Lambert. São observações e registros de um homem, de um sacerdote, que sentiu profundamente tais condições de vida entre milhares e milhares de brasileiros ainda não completamente integrados no processo moderno de civilização e desenvolvimento, dadas as condições socioeconômicas, os padrões de cultura que os cingem a um modo de vida de que dá o mais amplo, sereno e autorizado depoimento. "Admiremo-los, escreve o autor, como os pioneiros silenciosos mas teimosos da verdadeira marcha para o oeste."

LEONARDO ARROYO

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