Geopolítica do Brasil

no primeiro quinquênio dos 60, uma fase nova, de guerra fria em diminuendo e de um policentrismo que se vem afirmando tanto no Ocidente, com a postura degaulliana e seu ideal da Europe des Patries, como no Oriente comunista onde se esboçam os primeiros sintomas de uma dessatelitização do Leste europeu, com a Romênia na vanguarda, e se aguça, desde 61, a divergência entre a U.R.S.S. e a China. Quebra-se, assim, o monopólio ideológico de que a Rússia sempre desfrutara e esbate-se a missão messiânica universal de um comunismo já não mais monolítico. E não só isso, porque o neutralismo avança também em novas áreas. Ao mesmo tempo, a proliferação nuclear se erige em problema crucial e o perigo da "escalada" domina toda ação estratégica de força, no mundo algo diferente que surgiu após a confrontação dramática de outubro de 62 (a crise dos mísseis em Cuba).

No entanto, deveremos falar ainda, mais precisamente, de uma bipolarização frouxa do que, verdadeiramente, de uma multipolaridade: a China não atingiu plenamente o status de grande potência mundial, nem a área de autonomia ampliada no Leste europeu poderá resistir em face de quaisquer interesses, sempre que vitais, da U.R.S.S. O antagonismo entre o Ocidente cristão e o Oriente comunista domina ainda a conjuntura mundial.

E, pois, as mudanças sobrevindas no panorama internacional não cremos possam invalidar as ideias fundamentais que constituem o núcleo do pensamento geopolítico integrado que a seguir se exporá, nem tampouco venham a desfigurar, substancialmente, a perspectiva mundial em que este se acha inserido.

Não nos parece, pois, valesse realmente a pena um esforço de atualização rigorosa dos ensaios que compõem este livro, ademais sob o risco inevitável de possíveis incoerências e despercebidos anacronismos.

Entretanto, talvez tentássemos fazê-lo se a circunstância especial de achar-se o autor no exercício de função pública, que lhe exige o máximo de circunspecção e silêncio, não o impedisse de expressar pensamentos que pudessem ser, inconsideradamente, tomados como de inspiração governamental.

O que se vai ler é da mais estrita responsabilidade pessoal do autor.

G.C.S.

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