APRESENTAÇÃO
ESTE NÃO É um livro atualizado ao ano que transcorre — advirtamos desde logo o leitor. Mas, por outro lado, ressaltemos que de atualização, a rigor, não necessitava também. De qualquer forma, em respeito ao leitor, julgamos de nosso dever explicar porque não cogitamos de uma tal atualização, sempre possível, talvez útil, embora, de forma alguma, necessária.
Os capítulos, que se seguem, constituem-nos palestras e ensaios escritos em anos vários durante a década dos 50, traduzindo concretamente a evolução de um pensamento geopolítico que se orgulha, sobretudo, de suas raízes autenticamente nacionalistas, a fundo embebidas na sólida realidade da própria terra brasileira. Daí visualiza-se, apenas, o mundo ao largo, em suas perspectivas sempre cambiantes, e apalpa-se o cinturão imediato de mares e terras na ampla circunvizinhança política, sujeita a igual dinamismo, se bem mais moderado. Mas o que de fato importa é o ter-se buscado auscultar a fiel mensagem inscrita no modelado eterno do habitat imenso que nos coube humanizar e valorizar, para decifrar as linhas mestras de nosso destino geopolítico e entrever, em seus largos traços, a estratégia portentosa de toda uma hercúlea integração territorial, de nossa imperiosa projeção continental e da não menos imperativa segurança contra ameaças externas de além-mar.
Assim sendo, esboço de uma geopolítica brasileira, este livro não exige, em verdade, rigorosa atualização. Tem a pretensão, inerente a todo pensamento geopolítico que se preze, de resistir, em seu núcleo central de ideias, às variações conjunturais, mesmo em épocas de um dinamismo excepcional como a quadra que atravessamos. Apenas pede ao leitor compreensivo a benevolência de situar-se em sintonia com a data em que cada capítulo foi escrito, dando-lhe em compensação o prazer irônico de medir, com a ciência irrecusável dos fatos posteriormente ocorridos, os erros, e talvez alguns acertos, nas previsões a que o autor se houvera afoitamente, aqui ou acolá, abalançado.
Neste particular, convém ressaltar que à década dos 50 — caracterizada sobretudo pela guerra fria em crescendo e por uma bipolarização rígida do poder no campo internacional — viria a suceder,