Geopolítica do Brasil

Ora, Hobbes pode bem considerar-se como o patrono, reconhecido ou inconfessado, das modernas ideologias políticas que ameaçam, por todos os lados, o mundo decadente de um liberalismo impotente e exausto.

É certo que a geometria euclidiana já perdeu todo aquele seu extraordinário fascínio de admirável construção lógica, indiscutível e eterna, desde que Hilbert, entre muitos outros, lhe examinou os alicerces, apontando falhas e desmascarando preconceitos ilegítimos, antes de todo insuspeitos, e que o russo Lobatchévski, o húngaro Bolyai e o alemão Riemann descerraram os novos horizontes de metageometrias abstrusas que se iriam erguendo e ramificando e desenvolvendo luxuriantes, de um lado e de outro da construção primitiva clássica, tais como exóticas florações barrocas, sobre as quais Einstein haveria de construir todo um universo renovado, de inteligibilidade perfeita. Mas, subalternizando, embora, a matemática à simples categoria de capítulo elementar de uma lógica tornada mais e mais rigorosa pelo emprego do algoritmo que Leibnitz tanto almejara, no célebre "Calculemos!", os dias recentes se vêm caracterizando como o domínio ampliado de um logicismo cada vez mais audaz, sobretudo a partir da codificação russelliana dos Principia Mathematica. E pululam, hoje, os Principia Economica, os Principia Ethica, os Principia Politica.

No fundo, é ainda o mesmo anelo de precisão e de clareza, de verdades necessárias e irrefutáveis que leva o homem a esboçar, incansável, essas metalógicas estranhas e sabidamente malogradas, extravasando, muito além do restrito campo primitivo, aos mesmos domínios cambiantes a que Hobbes, como Spinoza em paralelo, buscara estender o método euclidiano, ao seu tempo, paradigma perfeito das supremas virtudes do Conhecimento e da Ciência. Tal como o Partenon, no purismo de suas linhas que medições mais exatas não conseguem sequer empanar, tal como a Ideia Imperial que animou os sonhos de Alexandre e as campanhas de César e as aventuras de Bonaparte e ainda perturba o espírito de modernos conquistadores dementados, tal como esse mito indestrutível da Pax Romana pelo qual suspira a humanidade, como por um novo milênio — é também este outro, o da apolínea perfeição da geometria de Euclides, um "fantasma" persistente e teimoso que ainda atrai e encanta e arrasta o espírito humano, em suas aventuras criadoras pelo reino do Cognoscível.

Sem dúvida, os novos mestres de ideologia política — e, se não mestre, profetas — são menos geômetras que Hobbes, mas, não menos que ele, presas de igual angústia.

É que o impulso incessante que domina, transparente, toda a dialética hobbiana, tanto quanto o avatar que espicaça aos novos doutrinadores políticos, é o mesmo grande Medo, o medo cósmico que viu, na Terra, o nascimento da Humanidade e de sua

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