Vida e obra de Oswaldo Cruz

PREFÁCIO

RAYMUNDO MONIZ DE ARAGÃO

A um simples lance de olhos sobre as vidas de Clementino Fraga e Osvaldo Cruz — neste livro biógrafo e biografado — ressalta de pronto a coincidência de haverem conduzido, a duas décadas de intervalo, campanhas vitoriosas contra a febre amarela, nesta mesma cidade, bela e sofrida. Mas, isto é o acidental, o fato exterior que, se os envolve no mesmo preito de admiração agradecida dos brasileiros, por forma alguma justifica a condição em que nesta obra se associam e, de certa forma, se confrontam.

O que realmente comove o leitor iniciado e o induz a uma comparação inevitável dos dois grandes vultos, à margem do texto que, nobre cautela do autor, só raramente em curtas passagens a sugere, é a forma semelhante por que sentem e solvem os episódios que lhes salteiam a ação de dirigentes sanitários, em país subdesenvolvido. Isto, não por cópia intencional ou falta de imaginação, mas pelo afeiçoamento, no mais moço, da forma de pensar e agir à do homem tão bem compreendido e tão intensamente admirado, a que se ligou por sincera afeição, para logo idealizada na saudade, a jeito de filiação espiritual.

Para quem conhece a vida dos dois eminentes brasileiros, suas lutas, suas obras, é uma experiência avassaladora ver emergir, por força de simples confrontação, de uma cronologia morta de fatos epidemiológicos, incidentes administrativos, ocorrências triviais, todo o processo — gradativo, vivo, palpitante de sentimento — através do qual, em metamorfoses, por dizer inevitáveis, o conhecimento suscitou a admiração, esta propiciou a afeição nobilitante, motivadora a seu turno de um propósito subconsciente de identificação que não se esgota na observância do modelo, antes procura fixá-lo, em rememoração grata, e tenta a interpretação do personagem, na projeção da própria personalidade.

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