De Osvaldo Cruz e Fraga, não há exagero em falar de filiação, pois, nascidos embora a distância menor que dez anos, a diferença de idade, menos expressiva em termos biológicos, representa, no ápice da parábola que figura a trajetória profissional, o passo de uma geração. No caso, o intervalo entre a geração que presenciou as grandes descobertas da nascente medicina experimental e a aplicação das incipientes e revolucionárias normas sanitárias dela emergentes, e a que assistiu o emprego desenvolto de tais medidas, acreditadas em êxito espetacular, pelo recuo constante das grandes endemias, afinal represadas nas áreas menos desenvolvidas, à espera do golpe final que as elimine.
De Fraga, ouvi certa feita, que "não há filhos adotivos, mas pais adotados", a significar ser o sentimento filial que efetivamente realiza e consagra a filiação volitiva. Dele, também, li, na sua bela e pessoal forma de escrever, a propósito do comércio de gerações: "(...) o ensino é a amizade! (...) Amizade que se faz no respeito mútuo, na comunhão pacífica, concorde nos mesmos interesses e superiormente discorde de quaisquer subalternidades; (...) amizade que se edifica na confiança recíproca e prolonga, fora da família, a família intelectual, sob mágicos auspícios de numes estranhos e desconhecidas afinidades." É, de fato, a linhagem espiritual, onde a afeição tece os laços que encadeiam os elementos clonais e enseja, à margem de imperativos genéticos, a identificação perseguida.
Quando Fraga chegou ao Rio, em 1906, vindo de Salvador onde, três anos antes, se diplomara com notas máximas e tese de doutoramento festejada em termos retumbantes, recrutava Osvaldo Cruz, através de provas rigorosas de seleção, talentos moços movidos, acima de tudo, pelo prestígio da tarefa sanitária, elevada a nível de cruzada redentora. Fraga, tentada a clínica particular em Campo Grande e Piedade, por um pouco, na aspereza das primeiras escaramuças, em busca de lugar ao sol no ambiente altamente competitivo da metrópole, que lhe sugerira já ao bom senso os subúrbios distantes, deixou-se atrair e ingressou nas hostes de Osvaldo, como inspetor sanitário, devidamente concursado, como hoje se diz, na linguagem daspiana.
Tinha Osvaldo Cruz — então jovem diretor cuja autoridade se impunha ao governo e à opinião pública, e cujo prestígio avultava entre os da classe, ao ímpeto de arrojadas e corretas medidas sanitárias que começavam a limpar, das manchas pestilenciais,