Rodrigues Alves - Tomo 2

Apogeu e declínio do presidencialismo

participara pessoalmente, não apenas como lavrador mas, também, como político e governante. Ele conhecera, na juventude, os cafezais de Guaratinguetá, grimpando pelos morros íngremes, trabalhados pela escravaria africana e o seu produto transportado em tropas de mulas e carros de bois. Como deputado provincial, defendera, então, a implantação das estradas de ferro e a abertura de correntes imigratórias de trabalhadores europeus.

Depois, juntamente com o irmão Virgílio, auxiliados ambos pelos recursos da tia e sogra, abriram no Oeste as grandes fazendas de São Manuel, Santa Ana, Santa Maria, no paraíso cafeeiro da terra roxa, entre Jaú e Bauru. Nessa época, como ministro da Fazenda, senador ou presidente do Estado, acompanhou as vicissitudes da lavoura cafeeira, aplicando a ação do estadista a um assunto que conhecia bem, como particular.

Agora, na presidência da República, iria defrontar-se com novos aspectos políticos e econômicos desse problema, a que estivera ligado de perto, durante toda a sua vida privada e pública.

Desde o governo de Prudente de Morais, prenunciava-se a crise do café, através dos primeiros sintomas do que viria a ser a sua moléstia crônica, ou seja, a superprodução. Começavam, então, a produzir os novos cafezais paulistas vindos do fim do Império e princípio da República (as fazendas de Rodrigues Alves, no oeste, vinham do fim do Império) e, com as grandes colheitas, os preços deram sinais de afrouxamento e os estoques não mais se esgotavam.(1) Nota do Autor

"Nos primeiros anos [lembra Caio Prado Júnior] a situação ainda se dissimulará, em parte, com a desvalorização da moeda brasileira; em papel, o preço do café não oscilará muito. É com a estabilização e revalorização da moeda, depois da restauração financeira de 1898, que se sentirá todo o efeito da depreciação. Esta será em 1905, em ouro, de mais de 50%. E, paralelamente, se acumularão estoques cada vez maiores de mercadoria invendável. Eles serão, em 1905, de 11 milhões de sacas de 60 quilos, que representavam 70% do consumo mundial de um ano."

Por meio dessa síntese feliz podemos compreender as razões da crise econômica e política, que abalou a segunda metade do

Rodrigues Alves - Tomo 2 - Página 449 - Thumb Visualização
Formato
Texto