avó que a levava a ver os navios. A mãe de Anah, Catita, fez então chamar o padre jesuíta Américo de Novais, amigo da família, para confessar o moribundo e ministrar-lhe a extrema-unção.
O sacerdote subiu aos aposentos do enfermo e com ele se entreteve a sós, durante algum tempo. À saída, disse aos filhos reunidos: "Vosso pai é uma alma pura."
As netas foram enviadas para casa dos pais. Deviam ser nove horas. A família adulta reuniu-se, então, toda, no quarto do enfermo que permanecia lúcido e calmo. Dirigindo-se às filhas, disse-lhes em tom claro: "Tenham paciência, guardem silêncio."
A certo momento, falando a Isabel, que lhe estava mais próxima, queixou-se de que "não estava enxergando mais". A filha declarou-lhe então que era noite, que o quarto estava escuro e que elas assim o mantinham para não fatigar-lhe os olhos. Ele não reclamou, mas não parece ter aceito a explicação.
Aproximava-se a meia-noite. Rodrigues Alves extinguia-se devagar, serenamente. Não falava na morte; não empregou esta palavra uma só vez, naquelas horas finais.
Sentindo provavelmente que o momento se aproximava, Rodrigues Alves praticou o seu último ato de vontade; ato de vontade exclusivamente político, próprio do homem público que sempre havia sido. Pediu que os presentes se retirassem, com exceção do filho Francisco e do amigo Álvaro de Carvalho. Então a ambos, com serenidade completa, mas com firme determinação, deu as instruções derradeiras. Não visavam a negócios, a heranças, nem mesmo a problemas espirituais. Diziam respeito, só e só, à política do Brasil. Ordenou que Álvaro se entendesse com Altino Arantes e Francisco com Artur Bernardes, a fim de preveni-los, logo que fosse necessário, "do que ia acontecer". Com este circunlóquio referiu-se à própria morte. Ajuntou ser importante que os presidentes dos dois grandes Estados responsáveis pela situação tomassem de imediato as providências "indispensáveis à garantia da ordem pública e da normalidade institucional".
O testamento verbal do estadista, proferido ao filho e ao amigo na hora suprema, foi o último ato praticado por Rodrigues Alves e resumiu na sua imponente simplicidade, toda a sua personalidade