O Governo Castelo Branco

tornando-a ainda mais discreta." Aliás, frequentemente, ele determinaria a redução ou a supressão das honras que lhe eram devidas. Por que excessiva movimentação de tropas? No particular, o de que ele gostava era encontrar-se com os camaradas, ouvi-los, sentir-lhes as necessidades e as sugestões de cada qual. Aí surgia o antigo chefe militar. As aparências é que não o seduziam.

Se lhe agradava conversar com antigos companheiros, quase todos mais jovens, aos quais dispensava palavras de ensinamento - ele passara grande parte da vida militar em cargos de ensino - não menos o encantava o convívio com escritores e intelectuais. Sempre que oportuno convidava pequeno grupo para almoçar no Laranjeiras. Ao comemorar-se, por exemplo, o primeiro aniversário da Revolução, em março de 65, Castelo reuniu alguns homens de espírito, que considerava necessários à imagem do movimento. E, em torno da mesa sentaram-se Austregésilo de Ataíde, Armando Fontes, Adonias Filho, Antônio Olinto, Barreto Filho, Gustavo Corção, Manuel Bandeira, Peregrino Júnior e Prudente de Morais Neto. Era a primeira vez que Corção punha o pé num palácio presidencial. Bandeira ofereceu a Castelo o exemplar da antologia organizada com Carlos Drummond de Andrade para as comemorações do IV centenário da cidade: o Rio de Janeiro em Prosa & Verso.(18) Nota do Autor Nessas ocasiões, o Presidente parecia sentir-se num oásis. Recordou o livro que, ainda no colégio militar de Porto Alegre, recebera de Olavo Bilac, a quem saudara em nome dos colegas.

Numa hora de incompreensões e radicalismos de toda sorte, Castelo guiou-se por indefectível espírito de conciliação. Desejou conciliar a liberdade com a autoridade, do mesmo modo que lutou por conciliar a ordem legal com a Revolução. Pouco importa se malogrou parcialmente, pois ao idealista apenas se creditam as aspirações, e estas sobrevivem nas sementes lançadas para o futuro. A ambição de conciliar devia provir-lhe da tolerância. Esta, no íntimo, foi a âncora com que resistiu aos que almejavam destruir, enquanto ele apenas organizava a reconstrução.

Também a tolerância permitiu-lhe separar o joio do trigo, certo de que as cassações, os expurgos, eram um remédio, nunca um fim para a Revolução. "Se mergulharmos exclusivamente na operação limpeza - escreveu a um amigo, o coronel Ibiapina, no início do Governo - O Brasil será entregue ao comunismo."(19) Nota do Autor Ele esperava vencê-lo, mediante um clima de confiança na Revolução, de apoio ao Governo, nunca em ambiente de terror. Quando Peter Howard,

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