NOTA LIMINAR
TERMINADO O MANDATO do Presidente Castelo Branco, não cogitava eu escrever sobre seu Governo, embora deste conservasse lembranças e apontamentos. Acreditava, contudo, que ele o faria algum dia, legando à posteridade, com equilíbrio e lucidez que lhe eram peculiares, a incomparável experiência vivida na Presidência da República, em período singular da vida brasileira, cuja mentalidade mudou, criando bases para uma era de desenvolvimento. Seria o depoimento de um líder inflexível na sua missão na qual revelou excepcionais qualidades de político e administrador. Dificilmente haverá personalidade mais rica e mais completa do que a do Presidente Castelo Branco, que aliava a energia do chefe à visão do estadista. Era dos que conservavam autoridade inata, embora havendo bebido o leite da ternura humana.
O seu trágico e inesperado desaparecimento fez-me, porém, considerar sobre a utilidade de trabalho simultaneamente testemunho de um colaborador e síntese daquele período de governo. Concluí que, de algum modo, e apesar das dificuldades inerentes a iniciativa desse gênero, me cabia tentar essa contribuição. Achega modesta, mas indelevelmente veraz. A verdade tal como a vi. Outros talvez a tenham apreendido de modo diverso, para o juízo que, com o decurso do tempo, arrefecidas paixões e alargadas as perspectivas, se decantará, mostrando, afinal, o que foi essencial para o Brasil. Não me esqueceu aqui o ensinamento cristão: "não queirais julgar para que não sejais julgados." Por isso não me propus a nenhum julgamento que me não fosse imposto pelo estrito dever da verdade, senão que, evitando fazê-lo sentenciosamente, deixei que a narrativa dos acontecimentos, e, dentro neles, as atitudes tomadas por cada qual, conduzisse o leitor à sua conclusão.
Não conhecendo o Presidente Castelo Branco anteriormente, o período em que tive a honra de servir ao seu Governo permitiu-me não apenas acompanhar a ação do estadista, cuja dimensão cresceu na medida em que se assenhoreou, dominando-os, dos graves problemas