O Governo Castelo Branco

A morte do estadista, ocorrida em circunstâncias trágicas, levou Luís Viana Filho a pensar em suprir-lhe o silêncio irremediável, tratando de escrever a obra que lhe parecia essencial.

E em tão boa hora se voltou para este propósito, tratando de reunir os materiais necessários ao monumento, que já agora seria impossível pelo silêncio de outras mortes - recolher alguns dos depoimentos que sensivelmente o enriquecem.

Luís Viana Filho, por outro lado, não se limitou a esse trabalho paciente. Na hora própria, o escritor dominou o material acumulado, e foi dando forma e corpo a este livro, que passa a ser, desde a hora de sua publicação, uma obra fundamental da historiografia brasileira - sem prejuízo de seu valor de ordem literária.

A experiência do historiador e do biógrafo se defrontou, desta vez, com um tipo novo de trabalho. Nos seus livros anteriores, Luís Viana Filho se debruçara sobre os papéis dos arquivos, e dera vida a Nabuco, a Rui, a Rio Branco e a Machado de Assis, sem que houvesse convivido com os seus modelos.

No caso do Marechal Castelo Branco, a figura do estadista era, para o escritor e historiador, um pouco de si mesmo, no cabedal das lembranças comuns. Esta circunstância teve outro desfecho. Em vez de a figura vulgarizar-se, pela frequência de seus contatos - só fez engrandecer-se.

Convém lembrar, por outro lado, que Luís Viana Filho, ao deixar a Chefia do Gabinete Civil para assumir a pasta da Justiça, ainda no Governo Castelo Branco, ouviu do Presidente da República, em discurso escrito, o louvor destas palavras: "Sendo a inteligência o principal instrumento de trabalho de Vossa Excelência, a colaboração (que me prestou) tem o vigor de renovados méritos intelectuais, a par de uma imaginação ajustada à realidade do problema diário ou especial. Nunca Vossa Excelência apresenta soluções tímidas ou que estejam além do praticável. O senso político e o conhecimento dos assuntos são parelhos ao caráter, onde o homem, pela formação, coragem e espírito público, tem grandeza e compreensão do que é humano."

Precisamente essa "compreensão do que é humano", aliada à "coragem e ao espírito público" orientaram Luís Viana Filho na elaboração desta explanação de um período de governo.

Deste livro se pode assim dizer que, tendo tudo para ser apenas um testemunho, surge hoje como um monumento. Não vem isento de controvérsias, como se verá. Mas foi escrito com aquele cuidado da verdade vigilante que se inspira na austeridade e na boa fé.

O Governo Castelo Branco - Prefácio 14 - Thumb Visualização
Formato
Texto