PREFÁCIO
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
AS RESPONSABILIDADES de catedrático de História da Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, que deixei em 1969 por motivo de aposentadoria, permitiram-me acompanhar, desde seus primeiros passos ainda hesitantes, o trabalho da Professora Suely Robles Reis de Queiroz, instrutora e afinal assistente da mesma cadeira, na busca de matéria adequada para a tese com que alcançaria o doutorado, agora transformada no estudo que se vai ler. Por satisfação pessoal e, naturalmente, por obrigação de ofício, tentei apresentar-lhe sugestões, acolher ou rebater as suas, até o momento em que ela decidiu embrenhar-se por conta própria no assunto de que trata o presente livro. Confesso que inicialmente encarei com ceticismo as possibilidades oferecidas para o aproveitamento do tema de sua escolha no prazo relativamente breve de que ainda dispunha antes da realização do concurso projetado. Lembrava-me particularmente do muito que custou a outra antiga aluna e professora na USP, Emília Viotti da Costa, a coleta de documentário sobre assunto semelhante, e a quem me coube também a tarefa de orientar até o momento, pelo menos, em que a possibilidade surgida inesperadamente de poder destinar-se o estudo à disputa, e conquista, brilhantemente conseguida, de título universitário mais alto, dispensou-me de tal mister, que só se faz necessário para o doutorado. Ora, no caso desse estudo, depois convertido na obra que se editou em 1966 com o título Da senzala à colônia, a coleta do material, mormente do material manuscrito, não foi cerceada por essa limitação de prazo, e aliás o principal, senão a totalidade da pesquisa necessária, já estava concluído no momento em que me coube ser escolhido para orientador.
O trabalho da Professora Reis de Queiroz, ao contrário, ainda não se tinha iniciado e nem sequer estava decidido o seu tema quando tivemos os primeiros entendimentos a respeito. O motivo que primeiramente me incitou a procurar dissuadi-la de explorar um assunto que já entrava de certo modo no terreno de suas preferências, não era bem a insuficiência de elementos disponíveis em nossos arquivos, pois tudo fazia crer, ao contrário, que fossem mais do que suficientes, mas a dispersão deles por entre um vasto acervo documental, onde podem aparecer sob rubricas que não permitem pressenti-los. O que