As próprias cidades, os lugarejos, os arruados, surgiram dessa marcha contínua e ampla. Grandes fazendas tornaram-se vilarejos. Aqui e ali, em torno dos bolichos, agruparam-se as casas. Um comércio rudimentar passou a viver dos produtos do gado. Os couros constituíram matéria-prima de venda fácil. Chegaram a ser erigidos em moeda, muita vez, para as trocas rápidas.
O campeador tem hábitos firmes e padrão de vida pobre. Suas esperanças fundam-se em pouco. Um cavalo, uma arma, uma cobertura, eis o que ele mais necessita. Andando sempre, de oeste para leste, de sul para norte, conduzindo os rebanhos, não tem pouso certo nem morada definitiva. Dorme no campo ou nos galpões abertos que, de longe em longe, encontra. O poncho é resguardo contra o tempo, coberta para a noite, leito morno onde esquece as canseiras da soalheira tremenda dos caminhos do pantanal ou a tristeza da monotonia dos chapadões que não têm fim.
Em região assim propícia ao regime pastoril, na sua fome inesgotável de novas terras, as populações oriundas de procedências tão díspares encontraram ambiente favorável ao apuramento de suas características. A grande propriedade expandiu-se, consideravelmente. Campos imensos ficaram entregues ao pastoreio. Uma população oscilante surgiu do contraste.
O campeador não se fixa. É um sôfrego de movimento e de mudanças. Vive na fascinação dos horizontes. Não pode parar. Nada o detém. Adormecido, na sua precária melhoria, pela impossibilidade mesma em elevá-la, pela remuneração em espécie, no regime da partilha, vendendo aqui e comprando acolá, tendo necessidade de muito pouco para manter-se, não se radica e nada deixa de si.
A expansão notável dos rebanhos, nos chapadões e nas terras baixas do pantanal não pôde ser acompanhada, de perto, pelo poder público. Autoridade e meios de repressão, como a própria moeda, que é o símbolo do Estado, permaneceram nas cidades. Em torno delas, na razão direta da distância, campeia a impunidade. Grandes proprietários, forçados pelo desequilíbrio, montaram a repressão própria. Clãs rurais, verdadeiras