O GRANDE problema do Oeste é o das distâncias. Elas se colocam, entre os pontos em que a civilização construiu alguma cousa, como hiatos enormes, a deprimir os homens, a tornar impossível o contato das populações, que faz forte uma comunidade e lhe dá a consciência coletiva indispensável às organizações humanas.
Já ao tempo da colônia, o problema se afigurava imenso. Os governadores levavam, comumente, meses para chegar aos pontos de suas capitanias em que a sua presença era necessária. Isso aconteceu, na terceira década do século XVIII, com Dom Rodrigo Cesar de Menezes. Dom Rodrigo, governador da capitania de São Paulo, — uma imensa capitania de cujas sucessivas amputações surgiu o estado de hoje, — empreendeu uma viagem a Cuiabá. A sua finalidade suprema era restringir a ânsia de autonomia dos bandeirantes que lá haviam ido bater. Quatro meses gastou ele, e a imensa leva que o acompanhou, nessa viagem.
Através dessas longas distâncias, em cujo percurso os dias decorrem monótonos pela uniformidade dos panoramas, só se encontram pastagens infinitas, grandes rebanhos e poucos boiadeiros. Aí se verificam, em toda a sua plenitude, as duas características fundamentais do regime pastoril: os enormes latifúndios e a pobreza do elemento humano. Percorrendo os longos itinerários do Oeste, esse aspecto se torna uma espécie de denominador comum a que se reduz, quase sempre, a fisionomia da paisagem. Campos infindáveis em que os vaqueiros, com os seus ponchos, destoam do verde igual que os rodeia.