os velhos tapumes da praxe ou da tradição, no Brasil, onde, de Varnhagen a Pereira da Costa, os historiadores já feitos têm procurado esconder dos novos suas melhores fontes de informação.
Meu ponto de vista na interpretação da história do homem brasileiro continua o de quem enxerga principalmente nessa formação e nesse homem, ao lado de um processo biológico — o da miscigenação —, mas quase independente dele, a ação, a expansão, o desenvolvimento de um processo social: o da interpenetração de culturas. Processo que tem agido menos no sentido da desintegração ou degradação de qualquer das culturas presentes na nossa formação que no da integração de todas numa sociedade e numa cultura nova e híbrida, múltipla e rica, ainda que confusa, em suas heranças, em suas técnicas de desenvolvimento, em seus valores e estilos de vida moral e intelectual, estética e material.
A técnica dos ensaios que se seguem, sobre ingleses no Brasil, é a de quem junta ao esforço de reconstituição histórica e sociológica ou histórico-sociológica, a tentativa de interpretação psicológica. E tenta não só as duas reconstituições, como a sua interpretação, trabalhando à vista dos leitores mais curiosos e dos críticos mais exigentes em questões de fontes e de métodos e até estimando sua colaboração vigilante. Não há — repita-se — tapumes entre o autor e os seus leitores mais exigentes ou mais críticos. Que eles, leitores e críticos, também subam aos andaimes conservados pelo autor e verifiquem com os próprios olhos e apalpem com as próprias mãos as evidências apresentadas.
Precisamente para isto é que são aqui conservados os feios andaimes que fazem dos ensaios anteriores do autor obras inacabadas ou sempre em construção ou em reparos. Com isto se tem irritado outro grupo de leitores ou críticos: os que veem nas muitas citações de fontes, por um autor, e nas numerosas referências bibliográficas em que ele se extreme, e das quais se sirva como de andaimes para levantar um edifício de mais de um andar, simples aparato de erudição ou exibição de saber.
De muito citar fontes tenho sido acusado por mais de um crítico ou leitor desses. Talvez tenham razão. Na verdade, para que citar tanto? Mas já estou velho para desembaraçar-me do hábito e do gosto. Continuo a pensar que melhor é citar de mais do que de menos —